keskiviikko 23. marraskuuta 2016

Duas cidades


[Suomeksi täällä.] Nesse blog eu, uma finlandesa, escrevo sobre as minhas percepções sobre a cidade e a área metropolitana do Rio de Janeiro. Escrevo em finlandês, logo escrevo principalmente pra quem tá lá fora e claro, do meu ponto da vista limitado. Escrevo sobre cotidiano, cultura, família, comida e as viagens que eu e o meu marido mageense fazemos. Não escrevo muito sobre a violência, pois acho que é um assunto complicado demais pra um texto curtinho - e também não quero que minha família fique preocupada. Mas como também não tem como falar sobre o cotidiano sem falar da violência que afeta todo mundo de alguma maneira, resolvi escrever esse texto. E depois, pra compartilhar com os amigos brasileiros, traduzi.


O que você faria, se estivesse em casa e escutasse tiros lá fora?

Se na sua cidade houvesse duas operações policiais acontecendo e se tivesse troca de tiros entre policiais e criminosos (e só Deus cuidando dos outros), como isso afetaria o seu dia?

Quando eu me imagino no nosso apartamento aí em Helsinque, demoro um pouco pra responder a primeira pergunta. Nunca aconteceu. Provavelmente eu ia ficar dentro de casa, chamar a polícia e esperar que eles resolvessem a situação.  

O segundo não posso nem imaginar de tão absurdo que é. Mas vocês sabem o que é mais absurdo ainda?

É que aqui no Rio, nessa semana, as duas coisas aconteceram. Mas nenhuma das duas afetou a minha vida de maneira alguma.

N ã o   a f e t o u   n a d a.

Os tiros não me assustaram, pois sabia (ou achava) que vieram da favela que fica perto daqui. Pode ser que foram tiros pro alto, pode ser que não. Pode ser que foi um conflito entre traficantes, pode ser que foi com a polícia. De qualquer maneira, o conflito fica lá. Não vem pra minha rua. Se eu andar na rua, a única coisa que me lembra da violência são os manchetes dos jornais na parede da banca.

Pode ser que a vida de alguém tenha acabado enquanto eu estava comendo meu mamão com yogurte numa distância de uns trezentos metros. E se esse foi o caso, provavelmente nunca vou saber. Nem tiros, nem mesmo a morte de alguem é suficiente pra fazer manchete aqui.  

As duas operações policiais aconteceram mais longe da minha casa. Uma foi mais perto do que outra no sentido que se fosse pra eu pegar o ônibus pra casa dos meus sogros, eu talvez ia pensar se vou em um que passa a via expressa ou não. Às vezes os tiros vão até aquela via expressa.

É. Eu sou uma das pessoas pra quem os informes de transito são escritos: O transito está parado na via expressa tal por causa do tiroteio em tal lugar. E agora o previsão do tempo.

E ao mesmo tempo, em outro lugar:

7 000 crianças não podem ir à escola.

Sete corpos são encontrados num brejo.

As famílias de cinco policiais estão preparando velórios.

As pessoas não podem sair da sua casa – ou voltar pra casa.

Alguem lava sangue do chão.

Alguem não sabe onde o filho está.


E eu não sei onde a humanidade está.

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